terça-feira, 1 de agosto de 2017

Economia colonial: o açúcar

Introdução
          
           No Brasil contemporâneo, uma  minoria de 3% de proprietários rurais é dona de, aproximadamente 55% das terras cultiváveis.¹ A concentração de terras vem desde o período colonial, quando os representantes do governo português favoreciam poucas pessoas, concedendo-lhes grandes áreas rurais destinadas à construção de engenhos, fazendas de gado e outros estabelecimentos.
Na História do Brasil, a fase açucareira corresponde ao período em que a produção e exportação do açúcar foram às principais atividades econômicas. Cronologicamente, esta fase está situada entre os séculos XVII e XVIII.
Em meados do século XVI, a coroa portuguesa resolveu colonizar o Brasil e, para fixar o homem na terra e obter lucro, deu início ao processo de cultivo de cana-de-açúcar no Nordeste do Brasil. O principal objetivo de Portugal era colonizar o território brasileiro, principalmente a faixa litorânea, para evitar o ataque de outros países. A região nordestina foi escolhida, pois seu solo e clima eram favoráveis ao cultivo da cana-de-açúcar.
             
AÇÚCAR: A implantação de um negócio lucrativo

Conforme vimos,os colonos que vieram com Martim Afonso de Souza plantaram as primeiras mudas de cana-de-açúcar e implantaram o primeiro. A partir de então, os engenho da colônia em São Vicente, no ano de 1533. A partir de então, os engenhos multiplicaram-se rapidamente pela costa brasileira. A maior concentração deles ocorreu no Nordeste, principalmente nas regiões dos atuais estados de Pernambuco e da Bahia.
Em pouco tempo, a produção açucareira acabou superando em importância a atividade extrativista do pau-brasil, embora a exploração intensa dessa madeira tenha continuado até o início do seculo XVII.

Por que produzir o açúcar
     
       Foram vários motivos que levaram a Coroa portuguesa a tomar a decisão de implantar a produção açucareira em sua colônia americana. Destacamos os seguintes:
  • Condições naturais favoráveis - havia, em certas regiões do Brasil, condições naturais favoráveis ao desenvolvimento da lavoura canavieira, como clima quente e úmido e o solo de massapê do litoral do nordeste.
  • Experiência anterior portuguesa - os portugueses já dominavam o cultivo da cana e a produção do açúcar, implantados com sucesso em suas colônias na ilha do Madeira e no arquipélago dos Açores.
  • Promessa de grande lucros - a metrópole  sabia que poderia obter grandes lucros com a produção do açúcar, considerando então um produto de luxo, uma especiaria, que alcançava altos preços no mercado europeu.
         O negócio açucareiro não ficou apenas nas mãos dos portugueses; contou também a participação dos holandeses. Enquanto os portugueses dominaram a etapa de sua produção do açúcar, os holandeses controlavam sua distribuição comercial (transporte, refino e venda no mercado europeu). Alguns historiadores afirmam que o trabalho de produzir açúcar trazia menos lucros do que comercializar o produto. Se correta a afirmação, o negócio do açúcar acabou sendo mais lucrativo para os holandeses do que para os portugueses.  
       
                                               
Mercado Interno na colônia

        
           Apesar da importação do lucrativo exportador, as atividades econômicas dirigidas ao mercado externo não foram as únicas praticadas no período colonial. Além dos latifundiários do açúcar (senhores de engenho), dos produtores de tabaco, dos comerciantes portuários envolvidos na exportação para a metrópole e dos mineradores, estabeleceu-se no Brasil colonial considerável número de pecuaristas e pequenos proprietários rurais que produziam as chamadas culturas de subsistências – gêneros alimentos alimentícios como mandioca, milho, feijão e arroz – para o consumo interno. Essa produção de alimentos era essencial para a população da colônia.  
            A criação de gado para o mercado local, por exemplo, tornou-se uma das principais atividades econômicas no período colonial. Além de servir de alimento e fornecer couro, os bois também eram utilizados como força motriz e meio de transporte. Diversas regiões, como amplas áreas dos atuais estados do Piauí, do Maranhão e da Bahia, do litoral norte do Rio de Janeiro, do sul de Minas Gerais e de planícies do Rio Grande do Sul, especializaram-se na pecuária, em vez de das culturas de exportação. É certo, portanto, que a economia do Brasil colonial não se reduziu à plantation, aos escravos, ao tabaco, ao ouro e aos diamantes.

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¹Cf. Atlas fundiário brasileiro. Brasília, Incra, 1996. 

ENGENHO: A produção do açúcar
          Nos primeiros séculos da colonização, parcela considerável  da população colonial concentrava-se no campo nas grandes propriedades rurais ligadas à produção agrícola e pecuária.
          Às vezes, vezes essas unidades produtivas tornavam-se também núcleo social, administrativo e cultural, como foi o caso de muitos engenhos (estabelecimentos onde produzia o açúcar).
          Para alguns historiadores, o engenho de açúcar é a unidade produtiva que melhor caracterizava as condições de riqueza, poder, prestígio e nobreza do Brasil colonial.²

Principais características da sociedade açucareira:

- Sociedade composta basicamente por três grupos sociais: senhores de engenho (aristocracia), homens livres e escravos.
Sociedade patriarcal: poder concentrado nas mãos dos homens, principalmente, dos senhores de engenho que controlavam e determinavam a vida dos filhos, esposa e funcionários.
- Uso, nos trabalhos pesados do engenho de açúcar, de mão-de-obra escrava africana. Os escravos eram comercializados como mercadorias e sofriam com as péssimas condições de vida oferecidas por seus proprietários.
- Posição social determinada pela posse de terras, escravos e poder político.

Divisão social (grupos sociais)

Senhores de engenho: possuíam poder social, familiar, político e econômico. A casa-grande, habitação dos senhores de engenho e sua família, era o centro deste poder. Este grupo social tinha forte influência nas Câmaras Municipais, principal pólo de poder político das cidades na época colonial.

Homens livres: eram em sua maioria funcionários assalariados do engenho (capatazes, por exemplo), proprietários de terras sem engenho, artesãos, agregados e funcionários públicos.

Escravos: formavam a base dos trabalhadores nos engenhos de açúcar. Tinham como origem o continente africano, sendo comercializados no Brasil. Era o grupo mais numeroso da sociedade açucareira. Em função das péssimas condições em que viviam, dos castigos físicos e da ausência de liberdade, possuíam baixa expectativa de vida (no máximo até 35, 40 anos). Resistiram à escravidão através de revoltas e fugas para a formação dos quilombos.

Bibliografia indicada:

Açúcar e colonização
- Autor: Ferlini, Vera Lúcia Amaral
- Editora: Alameda
- Temas: História do Brasil Colonial, Sociedade Açucareira


Principais características da economia açucareira

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- Cultivo da cana-de-açúcar nos engenhos com o objetivo de produzir açúcar para, principalmente, vender no mercado europeu.

- Uso, principalmente, de mão-de-obra escrava de origem africana.Havia também trabalhadores livres remunerados nos engenhos, porém, em menor quantidade.
- Estabelecimento dos engenhos em grandes propriedades rurais (latifúndios), que eram propriedades dos senhores de engenho.
- Poder econômico concentrado nas mãos dos senhores de engenho (formação da aristocracia rural).
- Transporte e comercialização do açúcar no mercado europeu realizados pelos holandeses.
- Neste período, o tráfico negreiro também gerou elevados lucros para os comerciantes de escravos. Esta atividade também era fonte de renda, através de impostos, da coroa portuguesa.
- Sistema econômico da colônia definido e fiscalizado pela Coroa Portuguesa.
- Existência do Pacto Colônia, fazendo que todo comércio da colônia fosse praticado somente com a Metrópole (Portugal). Desta forma, os produtos manufaturados não eram produzidos no Brasil, mas sim importados da metrópole.

Curiosidades:

- Os territórios dos atuais estados da Bahia e Pernambuco foram os locais de maior concentração de engenhos de açúcar no Brasil Colonial. Logo, foram as regiões que apresentaram maior produção e exportação do produto.
- No começo do Ciclo do Açúcar (segunda metade do século XVI), muitos senhores de engenho utilizaram mão-de-obra indígena na produção açucareira. Porém, com forte oposição dos padres jesuítas, esta opção foi deixada de lado em favor da mão-de-obra escrava africana.
- Ao contrário da atualidade, o açúcar do período colonial era caracterizado pela presença de muitas impurezas. Ele era consumido, principalmente, em formato de pequenos torrões. Era um produto muito desejado na Europa, porém, em função do seu alto preço, era consumido somente pelos membros da elite.

Bibliografia indicada:

MELO, Jose Antonio G. de. A economia açucareira (volume 1 e 2). História do Brasil, Economia, Ciclo do Açúcar. Editora: CEPE

O que era o engenho colonial

Era a unidade de produção de açúcar no Brasil Colonial. Compreendia as terras cultivadas, instalações voltadas para a produção de açúcar e moradias. Eram propriedades dos senhores de engenho, ricos proprietários rurais que produziam açúcar para a exportação.

Partes do engenho colonial:

- Casa-grande e senzala.

         Casa grande e senzala é o título de importante obra da sociologia brasileira, escrita pelo sociólogo e antropólogo pernambucano Gilberto Freyre (1900-1987), publicada pela primeira vez em 1933. Esse título é uma referência às duas construções mais características dos engenhos a casa grande, do senhor e a senzala, dos escravos.

- A Casa-grande: era o casarão (térreo ou assobrado) onde moravam o senhor de engenho e sua família, além de capatazes que cuidavam de sua segurança pessoal. Constituía também o centro administrativo do engenho.

- A Senzala: era construção rústica onde viviam os escravos africanos e seus descendentes, alojados de maneira precária. As senzalas consistiam de cabanas separadas, de paredes de barro e telhado de sapé, ou, mais caracteristicamente, de construções enfileiradas divididas em compartimentos, cada um ocupado por família ou unidade residencial.³
         
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Representação das diversas construções que compunham uma fazenda canavieira, como a casa-grande, a senzala e o engenho (formado pela casa da moenda e casa de purgar), em detalhe de mapa de 1643

- Casa dos trabalhadores livres: pequenas residências simples que seriam de moradia para os empregados do engenho que não eram escravos. Habitavam estas casas os funcionários do engenho como, por exemplo, capatazes, operadores das máquinas do engenho e outros funcionários especializados. Estes recebiam salários pelos serviços prestados e, geralmente, eram brancos ou mulatos.

- Moenda: maquinário usado no processo de fabricação do açúcar. Era uma espécie de triturador composto por rolos, que servia para esmagar a cana-de-açúcar a fim de se obter o caldo da cana. O moenda podia funcionar através da força (energia) gerada por bois, água (através de moinho de água) ou humana (escravos).

- Capela: local onde ocorriam as missas e outros rituais religiosos (casamentos, batismos e etc.). De origem portuguesa, a maioria dos senhores de engenho e sua família eram católicos. Em muitos engenhos, os senhores obrigavam os escravos a assistirem as missas. 

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Moenda: uma das principais instalações do engenho colonia

- Canavial: correspondia a cerca de 20% do engenho colonial. Era o espaço destinado ao plantio da cana-de-açúcar.

- Curral: local onde eram criados os animais usados no engenho colonial. Os bois e cavalos eram usados no transporte de pessoas e mercadorias. Já as vacas e porcos eram criados para a produção de carne voltada para o consumo interno do engenho.

- Rio: geralmente os engenhos de açúcar eram instalados em áreas próximas aos rios. Como não havia sistema de água encanada na época, os rios eram de fundamental importância para a irrigação dos canaviais e também para a obtenção de água para o consumo humano e animal. Em muitos engenhos havia uma roda d’água que servia para gerar energia e movimentar a máquina de moer cana.

- Plantações de subsistência: geralmente cultivadas pelos trabalhadores livres, eram destinadas a produção de verduras e legumes para o consumo no engenho.


- Reserva florestal: parte da vegetação nativa era preservada. Nestas matas, eram retiradas madeiras que serviam para abastecer os fogões a lenha do engenho.


Bibliografia indicada:

- O Engenho Colonial (coleção O Cotidiano da História)
Autor: Teixeira, Luiz Alexandre
Editora: Ática
Temas: História do Brasil Colonial

A grande propriedade monocultura:

A monocultura é um sistema de exploração agrícola, que chamamos de produção ou cultura agrícola de apenas um tipo de produto. Ela está associada aos latifúndios, grandes extensões de terras. A grande propriedade era monocultora e voltada para o mercado externo, utilizando mão-de-obra escrava, no inicio com os índios e, posteriormente, os negros africanos.
A sociedade açucareira que se organizou era o reflexo da economia agrária, escravista, por que no engenho, tinham poucos trabalhadores assalariados, estes se submetiam as ordens e influência do grande proprietário.
Como sabemos, os escravos viviam em senzalas, que eram lugares de um só compartimente, todos misturados, homens, mulheres e crianças. Os escravos ficavam responsáveis por todos os trabalhos braçais, como por exemplo nos canaviais, casa grande. Eles tiveram uma grande influência no trabalho agrícola.

 Mão de Obra: O trabalho escravo.

     Além de experiência produtiva e recursos financeiros, a economia açucareira necessitou, como qualquer qualquer atividade econômica de recursos humanos, isto é, mão de obra para executar as tarefas nos engenhos.
          No início, o colonizador utilizou-se do trabalho do indígena escravizado, uma solução relativamente barata e em quantidade suficiente para atender à demanda de mão de obra na colônia.
         Entretanto, principalmente a partir do começo do século XVII, o colonizador foi buscar formas alternativas de trabalho. Utilizando uma experiência já havida em Portugal metropolitano e nas ilhas atlânticas, optou-se pela escravidão africana, originando um lucrativo tráfico de escravo entre as costa da África, Bahia, Pernambuco e o Rio de Janeiro.4 Iniciou-se, então um predomínio da escravidão africana em relação à indígena em áreas agroexportadoras.


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Moagem de moenda no engenho. Obra de Benedito Calixto(s/d) feita com base desenho original de Florence (1880). Trata-se de um trapiche, um engenho movido a força de animal, em geral bovinos.


A dinâmica da economia colonial:

Na dinâmica colonial chamada de produto rei, períodos ou fases. Neta época existia ciclos econômicos, o que na verdade não corresponde à das economias a dos tempos coloniais.
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¹ Cf. Atlas fundiário brasileiro. Brasília, Incra, 1996
² FARIA, Sheila de Castro. Engenho. In: VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil colonial. Rio de Janeiro, Objetiva, 2000. p. 190.
³SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-1835. São Paulo, Companhia das letras, 1988. p. 125.
4LINHARES, Maria Yeda; SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Terra Prometida: uma história da questão agrária no Brasil. Rio de Janeiro, Campus, 1999. p. 58. 

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